MUNDOS CIRCULARES


  Você se lembra do nosso beijo pela primeira vez, no parque de diversões, sentados na roda gigante em São Francisco? A vida se iniciou de uma forma mais plena para nós dois. Depois daquela noite de claridade opaca, assistindo ao céu estrelado do alto daquelas rodas iluminadas que giravam em torno do mesmo eixo – suspensas em duas torres verticais – os anos se passaram tão depressa, e lá no fundo a gente sabe que ainda resta alguma coisa, ainda sem nome, a qual nos prende dentro de um círculo invisível nos fazendo girar até os nossos corpos se chocarem brutalmente. Por todas às vezes que tentamos fugir desse anel gigante, acende-se uma lâmpada de intensidade tão forte que o não-retorno para dentro do círculo pode cegar os nossos olhos por toda a eternidade. O medo é tão intenso que a força gravitacional da Lua nos empurra em direção a ela. Não se engane assim, a lua sabe de todos os segredos e caímos, sem perceber, novamente, dentro do círculo. Dentro dessa esfera circular nossos corpos desconhecem o prazer, mas reconhecem suas partes destruídas pelo raio. Após a destruição, a poeira cósmica preservou com grande ternura a consciência do erro que cometemos, em uma bolinha de ping pong, batendo no piso da sala sem intervalos de descanso. As nossas mãos avançaram em direção a bolinha, e o chão abriu-se em buraco negro. Enquanto eu caía violentamente no fundo da claridade opaca do erro, você ressurgiu para mim como um Deus que desce à Terra.

Ricardo Neto

    

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